Os Três Rapazes - Parte 5

 

LUIZ EDUARDO

 

         “Eu ouvi direito?”

         – Você me chamou de quê?

         Foi quando me senti na obrigação de levantare olhar no olho daquele cara. Quem ele achava que era? Mal devia conhecer a Ceci, porque senão estaria lá embaixo com todo mundo, e já estava querendo julgar as pessoa que amavam ela? Não, isso estava errado, muito errado.

         – Olha cara... – Ele passou uma das mãos pelos cabelos escuros, nem tentando fingir que tinha dito outra coisa.

         Fiquei em pé na frente dele, devia ser uns dez centímetros mais alto que o babaca.

         – Eu ouvi direito? Você me chamou de idiota?

         O outro menino deu um assovio. Olhei para ele com raiva, não era hora de brincar. Era hora de colocar o verdadeiro idiota no lugar dele.

         – Você nem me conhece. – Cruzei os braços.

         Eu não iria bater nele, não era disso. Eu e a Ceci sempre fomos duas pessoas completamente tranquilas e reservadas, então ouvir aquele caradizer que eu era um idiota, e pior, ouvir ele ter a coragem de dizer que o meu amor tinha sido capaz de namorar um idiota... meu sangue subiu.

         “Ou ex amor... ah de que importa isso agora?”

         – Eu conheço bem o seu tipinho. – Foi a vez dele de cruzar os braços.

         – Oi? – Quase cuspi em seu rosto, abaixo do meu.

         – Filhinho de papai, alto, roupas alinhadinhascabelinho perfeito... só falta me dizer que é o primeiro da sua turma. – Ele soltou uma risada. – Produtinho perfeito de um sistema. Padrão. Sem originalidade, sem graça, sem conteúdo, um idiota.

         Eu não ia mal na faculdade, mas estava longe de ser o primeiro da turma; eu não costumava ligar para roupas, mas aquele era um dia que exigia respeito, de todas as suas formas; comecei a alinhar os meus cabelos por causa da Ceci; e meu pai... há, vejo ele uma vez por mês no máximo, desde que se separou da minha mãe, uns dez anos atrás. Mas para que me dar ao trabalho de explicar tudo isso, sendo que o cara já tinha feito seu juízo de mim?

         Olhei para ele de cima abaixo. O sorrisinho estava me irritando, e eu estava quase saindo dali, mas uma coisa martelava na minha cabeça.

         – Quando foi que ela falou de mim pra você? – Perguntei, baixinho.

         Ele deu de ombros.

         – Não sei exatamente. Foi na época que a gente ficava.

         “Ficava? Como é que é? A Ceci tinha ficado com um cara desses?”

         Me repreendi, percebendo que agora era eu que estava julgando o sujeito, mas ele tinha me provocado!

         – Então era você o cara da sala dela que ela pegava? – Caio se intrometeu na conversa, curioso.

         Félix revirou os olhos, mas concordou com a cabeça.

         – Claro que um cara como você ela iria só pegar e não namorar.

         Me arrependi assim que as palavras saíram da minha boca, porque estava só alimentando a discussão, mas não era como se pudesse voltar atrás.

         – Ah é. – Ele chegou mais perto de mim. – Só pegava. E pagava muito e cara... como ela amava. 

         Respirei fundo.

         – É, ela disse que você sabia o que estava fazendo – Caio comentou.

         – Ha! – Félix soltou uma risada com a cabeça virada para o alto.

         – Qual é o seu problema, menino? – Perguntei ao mais novo de nós três, provavelmente com o rosto vermelho.

         – Desculpa. – Ele disse, erguendo as mãos e em seguida apontando uma delas para Félix. – Ela também chamou ele de babaca, se serve de consolo.

         – Ha! – Foi a minha vez de rir. Félix não pareceu ligar nenhum pouco, o que me irritava mais ainda.

         – Ela pode me achar o babaca que for, não faz a mínima diferença.

         “Na verdade não pode mais.”

         – Você está desrespeitando alguém que acabou de morrer? – Perguntei, com os olhos arregalados.

         – Você fala como se a culpa dela ter se matado seja minha.

         – Com certeza você não ajudou! – Senti meus olhos ficarem marejados e parei de falar, porque senão minha voz iria falhar. As lágrimas começaram a vir com tudo. 

         “Eu também não ajudei.”

         Pensei no final do nosso relacionamento, nela distante, fugindo toda vez que eu tentava conversar, e em mim impotente, sem saber o que fazer. Se eu soubesse como tudo iria acabar, teria abraçado ela e nunca soltado mais, sem deixar que caísse nos braços de um babaca, sem deixar que caísse de forma alguma, sem deixar...

          “E quem disse que eu teria todo esse poder?”

         Passei a mão pelos cabelos, despenteando tudo.

         – Eu amava ela. – Passei as mãos pelas bochechas, enxugando as lágrimas que não paravam de rolar.

         Meu olhar ficou virado para o chão, enquanto tudo ao redor permanecia em silêncio. Acho que até os babacas têm coração, porque Félix, ao invés de fazer qualquer comentário sarcástico, se aproximou, e colocou uma das mãos no meu ombro. Fiz a coisa mais improvável de se fazer naquele momento e abracei ele, abracei o babaca com força, deixando que seu ombro fosse o meu lugar de conforto. Foi quando Caio se aproximou da gente e entrou no abraço, também chorando baixinho, e aí eu percebi que nada mais importava. Não importava quem tinha sido o que para a Ceci. Ela não iria voltar.

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