O pai dela já é um senhor de idade, que se vira para cuidar dos dois filhos.

            O irmão dela tem um vulgo e está na rua fumando alguma coisa.

            A mãe dela... não sei, só sei que não está ao seu lado.

            Ela postou uma foto muito reveladora, e até aí tudo bem, se você pensar que uma mulher é dona de seu corpo e o expõe como bem entender.

            Mas não estamos falando de uma mulher, estamos falando de uma menina. De uma criança de doze anos, que não faz ideia sobre como o mundo é mal e nem sabia o que era pedofilia por exemplo.

            Tive que explicar a ela, deixando bem claro que o problema não era ela, e sim as pessoas ruins, das quais o mundo está cheio: abusadores e aproveitadores, à espreita, esperando uma pequena menina dar bobeira para quem sabe mudar o vulgo de seu irmão para “filho único”.

            Ela tem sonhos, não tem culpa. Ela tem esperanças, não tem noção. Ela é só uma menina sendo menina, mesmo que isso envolva ouvir música não apropriada para a idade (coisa que eu reprovo, mas não mando nela).

            Ela deixou claro que era apenas brincadeira quando disse que estava se envolvendo com criminosos, pois a última coisa que iríamos querer seria repetir a agonia que foi a da colega de escola, que nem queria muito fazer e fez, e aí passou dias em dúvida se carregava uma nova vida. Catorze anos.

            O pai faz tudo que pode, mas não dá tempo de cuidar de uma casa, trabalhar e ficar em cima dos dois filhos, então eles mesmos têm que aprender a se cuidar.

            Uma professora carinhosa comprou algumas coisas para ela: um xampu, condicionador e uma escova de cabelos, para ela cuidar dos seus e ficar ainda mais linda, com aqueles olhos que Deus a deu. Pediu a mim que tivesse a conversa, pois sou mais nova e ela se abriria mais.

            Pois bem, foi o que aconteceu.

            Fico muito feliz que ela tenha recebido bem as minhas ideias, que foram bem simples: aprender a se proteger, para não ter de sacrificar os seus sonhos. Infelizmente, certas conversas um pai não vai conseguir ter com sua filha, mas isso é normal, pois são diferentes. Ela precisava contar com uma mãe, mas a dela a deixou para trás (e agora o corretor me incentiva a abandonar o meu eufemismo, mas não quero).

            Expliquei a ela, falei muita coisa e, mais importante, ouvi. Às vezes só queremos ser ouvidos, sentir que temos relevância. Tive certeza de que este era o caso quando, ao final da conversa, ela me disse:

            – Eu estou feliz, porque tem gente que se importa comigo.

            Não deixamos de olhá-la e estamos sempre à disposição para ouvi-la, é só chamar, garota (carinha piscando). 

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