Prefácio
Não são raras as vezes em que algo
deixa de ser dito. Seja por medo de magoar alguém; falta de coragem; uma
decisão de preservar a estabilidade harmoniosa do ambiente; ou apenas pelo fato
de os sentimentos não estarem desenvolvidos o suficiente naquele momento.
Às vezes não sabemos o que falar. Às
vezes não sabemos como falar.
Há quem despeje seus sentimentos em
socos, gritos, pontapés e discussões; há quem os faça por meio de algum tipo de
arte; e há quem os guarde em um peito calado, pontuado de arrependimentos.
Todas essas pessoas têm algo a dizer, algo gritando em suas gargantas que, por
algum motivo, não foi dito da forma certa.
Eu sempre guardo, na primeira gaveta
da minha mesinha de cabeceira, algum conjunto de papéis, que pode ter sido um
brinde, uma agenda antiga ou algum caderninho fofo pelo qual provavelmente
paguei dez reais. É nestes papéis que guardo meus sentimentos, minhas palavras
não ditas, que acabam escritas, da forma que acharem mais apropriada.
A minha própria mãe reclama que não
saio muito, então, no mundo prático, posso não ter vivido muita coisa (ainda...
ou não, sei lá, do futuro nada se sabe), mas já vivi muito no meu peito, e na
minha cabeça. (In)Felizmente, nada disso passou para a garganta, mas pelo menos
passou para os papéis.
Muitas pessoas passaram por minha
vida, gente que vem e vai, como deve ser. Alguns acompanho de longe. Pessoas
que um dia conheci bem, conheci com o coração, às quais dediquei palavras,
atividade de verdade de minhas cordas vocais. Hoje, conheço apenas uma pequena
parte, que são as lembranças de mim que eles têm. Quase se tornaram
desconhecidos. Há quem eu não cumprimentaria ao encontrar na rua.
Minha garganta deixou de contar
muitas coisas a eles, mas minhas mãos de caligrafia duvidosa escreveram cartas,
endereçadas à minha gaveta. Agora, essas palavras talvez nem caibam mais
(afinal, você não vai atrás daquele colega do Ensino Fundamental II dar a
resposta genial na qual pensou depois que a briga acabou), mas continuam sendo
manifestações de sentimentos. Há os que servem melhor a mim mesma, inclusive
alguns dos quais rio ao relembrar o passado. Passado é passado, a ele não se
retorna, mas se consulta a documentação.
Lembre-se, não há porque forçar sua
garganta, você tem os seus motivos, eu sei disso. Mas, jamais, ignore os seus
sentimentos. Eu não ignorei os meus e, de meus dedos, eles podem passar aos
seus olhos e, quem sabe, até ao seu coração. Esta carta, dediquei a ti, e aqui
há algumas das que foram dedicadas a outras pessoas: (ex) amigos, (quase)
amores, e faces de mim mesma que fiz questão de conhecer, a (des)conhecida mais
difícil de decifrar.
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