Houve uma vez em que conheci uma menina no Carnaval. Ela era quatro anos mais nova que eu e era linda. Trocamos telefones e nos tornamos amigas, mas, antes disso se desenvolver, ela era uma estranha.
Um dia recebi uma mensagem de um número desconhecido, que
não tinha nem mesmo qualquer DDD do meu estado. A dona daquele número era a
menina do Carnaval, que estava me contatando, fosse para jogar conversa fora,
fosse para relembrar o que havia acontecido, fosse apenas para sentir que podia
retornar a dias agradáveis.
Ela perguntou-me se eu me lembrava dela. Claro que sim,
respondi. Não me recordo dos detalhes que se seguiram, mas sei que, em pouco
tempo, estávamos desabafando sobre situações desagradáveis de nossas vidas.
Ela tinha passado por mais de uma ocasião traumática e
tinha todos os motivos para surtar; eu tinha aquela coisa ruim da qual sempre
falo de maneira vaga mas nunca quero assumir de primeira. Trocamos confidências
e, em um primeiro momento, ódio e decepção para com o mundo.
O fato que quero evidenciar aqui é que é muito mais fácil
desabafar com um desconhecido, que era o que aquela menina era para mim naquele
momento. Um desconhecido não tem o contato dos seus pais para alertá-los sobre
o que quer que seja, não conhece a sua rotina e nem o seu passado. Um
desconhecido não tem base para te julgar e muito menos para jogar a situação na
sua cara no futuro, afinal, vai sumir da sua vida em breve, não há laços, é um
desconhecido.
Continuamos conversando e eu me sentia culpada por sofrer
sendo que não tinha passado nem por metade do que ela tinha, mas a garota não
me julgava, apenas me escutava e trocava confidências comigo.
Escrevi uma música para ela, chamada ‘when this is all
over’ (quando tudo isso tiver acabado), falando sobre como algum dia seríamos
felizes, dentro de nossas condições de florescer. Amo esta música e a mensagem
que a mesma carrega. Amo lembrar de quando me senti completamente sem amarras ao
compartilhar tudo o que sentia com uma quase estranha que não me julgava. Amo a
sensação que esta lembrança me traz: de esperança.
Hoje ainda somos amigas, mas conversamos muito pouco
(moramos em estados diferentes, e as pessoas se afastam, é assim, acontece) e
eu, sinceramente, não quero mais desabafar com ela, afinal, ela não é mais uma
estranha.
Guardo meus desabafos para minha terapia (mesmo que lá eu
tente ser racional e tenha vergonha de parecer fraca, mas isso é assunto para
outro texto), pois até com minhas amigas sou um pouco cautelosa, rindo dos
problemas e escondendo certas coisas.
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