Esta
menina tem os cabelos arruivados. É pequena, nova e tem os olhos tristes.
Fala
baixinho. Tão baixinho que precisamos nos abaixar e deixar o rosto a
pouquíssimos centímetros do seu para conseguirmos entender o que ela está
falando.
“Às
vezes eu não gosto de falar baixo.”
Foi o
que ela me disse.
Então
tentei ensiná-la a falar mais alto. Vamos projetas a voz, articular os lábios e
fazer força lá no diafragma. É difícil, eu sei, ela está habituada a falar tão,
mas tão baixo.
Ela me
disse que não há nada de errado em casa e eu decidi acreditar. Não entendi por
que sua mãe não a deixou fazer uma atividade diferenciada à tarde na escola,
mas temos de respeitar os desejos dos responsáveis.
O fato
é que esta menina ficou na minha mente.
Falar
baixinho faz parte. Ela é introvertida, isso já está bem claro, mas por que é
que tem a tristeza nos olhos? Por que tem os cantos da boca virados para baixo?
Se eu
estivesse muito sensível em sua presença, possivelmente choraria apenas por ser
contagiada pela sua atmosfera.
Por
que tão cabisbaixa, pequena?
Aquela
outra menina superanimada virou sua amiga, e parece ser a única que a entende.
Ela senta pertinho da menina triste e é sua porta-voz, externando o que precisa
ser dito.
“A
Fulana precisa disso; Fulana gostaria daquilo; Fulana não acha isso legal.”
Sabe o
que eu acharia legal? Que Fulana conseguisse falar por si mesma.
Tão
frágil, tão pequena.
O que
acontece em seu coração?
Fico
tão feliz em não vê-la sozinha, mas tenho um receio de que as pessoas ao seu
redor sirvam como muletas. Ela precisa aprender a caminhar sozinha.
Também
estou confabulando sobre uma criança que nem mesmo minha é, e eu mesma escrevi
um livro sobre uma criança introvertida (mas a minha tinha problemas, isso é
inegável, então fico pensando se a menina arruivada também não tem), então não
deveria julgá-la... não é?
O
triste é ver seus olhos tristes carregando tristeza.
Espero
ainda poder ver os cantos de sua boca virados para cima um dia.
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